domingo, 6 de março de 2022

... guerra ...

 



E tropeçavam todos nalgum vulto,

quantos iam, febris, para morrer:

era o passado, o seu passado — um vulto

de esfinge ou de mulher.

 

Caíam como heróis os que não o eram,

pesados de infortúnio e solidão.

(Arma secreta em cada coração:

a tortura de tudo o que perderam.)

 

Inimigos não tinham a não ser

aquela nostalgia que era deles.

Mas lutavam!, sonâmbulos, imbeles,

só na esp'rança de ver, de ver e ter

de novo aquele vulto

— imponderável e oculto —

de esfinge, ou de mulher.

 

David Mourão-Ferreira, in "Tempestade de Verão"




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