segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Agora que o Carnaval morreu IIIII


Se eu deixar de sofrer como é que vai ser para me acostumar
Se tudo é carnaval eu não devo chorar pois eu preciso me encontrar
Se eu deixar se sofrer como é que vai ser para me acostumar
Se tudo é carnaval eu não devo chorar pois eu preciso me encontrar


Sofrer também é merecimento
Cada um tem seu momento Quando a hora é da razão
Alguém vai sambar comigo
E o nome eu não digo, guardo tudo no coração


Poema de Caetano Veloso na canção “Hora da Razão”


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domingo, 22 de fevereiro de 2015

Agora que o Carnaval morreu IIII

No meu filme
Pinta baticum na mesa
Alegria com cerveja
Entidades e nações
Mudo e surdo


Encapadas em capetas
Língua que lambe ninfetas
Lata maraçá e fome
Gangazunga lobisomem
Samirá que vira homem
Rum pi lé rum


É vendaval, é ilusão
E eu e você no carnaval
No carnaval
E a glória de nada
Me valeria
Minha atlântida Bahia
Ilha de reuniões


E agora já que tenho
Companhia
Talvez veja outro filme
Lâmina mulher Maria
Uma voz
Que guia guia
Bimotor que silencia
Rum pi lé rum


Ý vendaval, é ilusão
Ý eu e você no carnaval
No carnaval
Do you believe me
Can you hear me


Poema de Marisa Monte na canção “Maraçá”

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sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Agora que o Carnaval morreu III

Você sorriu pra mim
Depois sumiu na multidão
Será que foi miragem de carnaval
Ou o amor me mandou seu sinal?


Manhã e eu nem dormi
Cabeça cheia de canções
"eu sou negão", "aurora"
"frevo mulher", "mal-me-quer"
"faraó"... me perdi 


Misturo meus carnavais
E não distingo mais
Fatos de ilusões
São melodias demais
É preciso ter mais


De mil corações
Porém pra lá de abril
E já bem longe do verão
Você virá do coração do Brasil
E trará o meu sonho na mão



Poema de Caetano Veloso para a música “Miragem de Carnaval”



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quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Agora que o Carnaval morreu II


Carnaval, desengano
Deixei a dor em casa me esperando
E brinquei e gritei e fui vestido de rei
Quarta-feira sempre desce o pano

Carnaval, desengano
Essa morena me deixou sonhando
Mão na mão, pé no chão
E hoje nem lembra não
Quarta-feira sempre desce o pano


Era uma canção, um só cordão
E uma vontade
De tomar a mão
De cada irmão pela cidade


No carnaval, esperança
Que gente longe viva na lembrança
Que gente triste possa entrar na dança
Que gente grande saiba ser criança


Poema de Chico Buarque no samba "Sonho de Um Carnaval"


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quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Agora que o Carnaval morreu I




Eu não quero mais chorar
Por causa de um amor qualquer
Minha dor tem que acabar
No Carnaval, se Deus quiser


Faz um ano deste amor
Esperei até cansar
Carnaval me trouxe a dor
Carnaval tem que levar


Poema de Gilberto Gil na canção "Amor de Carnaval"


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terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Aracnofilia

(uma pessoa cá de casa, que tinha lido um excerto deste conto, pediu para lhe comprarmos o livro... e, por estes lados, nunca dizemos que não a um pedido destes)




"A aranha, aquela aranha, era tão única: não parava de fazer teias! Fazia-as de todos os tamanhos e formas. Havia, contudo, um senão: ela fazia-as, mas não lhes dava utilidade. O bicho repaginava o mundo. Contudo, sempre inacabava as suas obras. Ao fio e ao cabo, ela já amealhava uma porção de teias que só ganhavam senso no rebrilho das manhãs."



"E dia e noite: dos seus palpos primavam obras, com belezas de cacimbo gotejando, rendas e rendilhados. Tudo sem fim, nem finalidade. Todo o bom aracnídeo sabe que a teia cumpre as fatais funções: lençol de núpcias, armadilha de caçador. Todos sabem, menos a nossa aranhinha, em suas distraiçoeiras funções."


"Para a mãe aranha aquilo não passava de mau senso. Para quê tanto labor se depois não se dava a indevida aplicação? Mas a jovem aranhiça não fazia ouvidos. E alfaiatava, alfinetava, cegava os nós. Tecia e retecia o fio, entrelaçava e reentrelaçava mais e mais teia. Sem nunca fazer morada em nenhuma. Recusava a utilitária vocação da sua espécie.
- Não faço teias por instinto.
- Então, faz porquê?
- Faço por arte."

Mia Couto, "A infinita fiadeira" in O fio das missangas

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

És Poema do Ary, português como o Galo de Barcelos ...


Guimarães, Vinte e Nove de Janeiro de Dois Mil e Quinze,
Escrevo-te enquanto tomo chá (para amenizar a constipação). Não sabes quem sou, mas não virá disso grande mal: nada perdes, a não ser (se calhar) quando uso aquelas Levi's que me assentam bem no rabo.
Gosto (defeito ou virtude) do que é genuíno, e tu, por Amália, és genuína!
És Poema do Ary, português como o Galo de Barcelos. Um Cravo colhido aos acordes do (Alcino) Frazão. E cantas. E encantas. E arrebatas. E mostras as pernas (Ah! Que bela visão!).


Cantas em Lisboa o resto de Portugal: cantas em Lisboa a Lisboa que é também Minho, Trás os Montes e Alto Douro, Douro Litoral e as Beiras, e por aí adiante. Cantas em Lisboa o Portugal que te cabe no Peito. E eu oiço. E eu calo. E eu penso. E o teu cabelo, e os teus olhos, e as tuas mãos, e a tua boca, e a tua voz, e o teu jeito fazem o que sabem (magistralmente) fazer: Fado.

Tu és (se és!) Fado. Tu és Portugal.
P.S: E as tuas pernas





Texto de Paulo César Gonçalves (publicado na página do Facebook de Gisela João)


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sábado, 7 de fevereiro de 2015

Afterglow



É sempre comovente o pôr do sol
por indigente ou berrante que seja,
mas ainda bem mais comovedor
é o brilho desesperado e derradeiro
que enferruja a planície
quando o último sol ficou submerso.
Dói-nos reter essa luz tensa e clara,
essa alucinação que impõe ao espaço
o medo unânime da sombra
e que para de súbito
quando notamos como é falsa,
quando acabam os sonhos,
quando sabemos que sonhamos.


Jorge Luís Borges, Fervor de Buenos Aires

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Ovelha churra algarvia


Enquanto há muito poucos anos existiam mais de cinco mil ovelhas churras algarvias, consta que hoje já não ultrapassam as duas mil. Ainda assim, cruzei-me com um rebanho destes ovinos, que o simpático pastor me deixou fotografar enquanto pastavam e amamentavam as suas crias. Deixo-vos algumas das fotos destes animais interessantes, bem diferentes das ovelhas comuns. 




 



Mé!!!!


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domingo, 1 de fevereiro de 2015

Poema mestiço




escrevo mediterrâneo
na serena voz do Índico

sangro norte
em coração do sul


na praia do oriente
sou areia náufraga
de nenhum mundo

hei de
começar mais tarde

por ora
sou a pegada
do passo por acontecer


Mia Couto, raiz de orvalho e outros poemas