terça-feira, 29 de setembro de 2015

A propósito da Lua...

(duas Sophias e um Fernando) 



COMO UMA FLOR VERMELHA

À sua passagem a noite é vermelha,
E a vida que temos parece
Exausta, inútil, alheia.

Ninguém sabe onde vai nem donde vem,
Mas o eco dos seus passos
Enche o ar de caminhos e de espaços
E acorda as ruas mortas.

Então o mistério das coisas estremece
E o desconhecido cresce
Como uma flor vermelha.

Sophia de Mello Breyner Andresen, Poesia, II


LUAR

O luar enche a terra de miragens
E as coisas têm hoje uma alma virgem,
O vento acordou entre folhagens
Uma vida secreta e fugitiva,
Feita de sombra e luz, terror e calma,
Que é o perfeito acorde da minha alma.

Sophia de Mello Breyner Andresen, Poesia, I


Pálida, a Lua permanece
No céu que o Sol vai invadir.
Ah, nada interessante esquece.
Saber, pensar - tudo é existir.

Mas pudesse o meu coração
Saber à tona do que eu sou
Que existe sempre a sensação
Ainda quando ela acabou...

Fernando Pessoa, 04.03.1934, Poesias Inéditas (1930-1935)

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Ordinary People


Girl, I'm in love with you
This ain't the honeymoon
past the infatuation phase
Right in the thick of love
At times we get sick of love
It seems like we argue everyday


I know I misbehaved
And you made your mistake
And we both still got room left to grow
And though love sometimes hurts
I still put you first
And we'll make this thing work
But I think we should take it slow


We're just ordinary people
We don't know which way to go
Cuz we're just ordinary people
Maybe we should take it slow
Take it slow
This time we'll take it slow
Take it slow
This time we'll take it slow


This ain't a movie, no
No fairytale conclusions, y'all
It gets more confusing everyday
Sometimes it's heaven sent
Then we head back to hell again
We kiss then we make up on the way


I hang up, you call
We rise and we fall
And we feel like just walking away
As our love advances
we take second chances
Though it's not a fantasy
I still want you to stay


We're just ordinary people
We don't know which way to go
Cuz we're just ordinary people
Maybe we should take it slow
Take it slow
This time we'll take it slow
Take it slow
This time we'll take it slow


Maybe we'll live and learn
Maybe we'll crash and burn
Maybe you'll stay, maybe you'll leave
maybe you'll return
Maybe another fight
maybe we won't survive
Maybe we'll grow we never know
Baby, you and I


We're just ordinary people
We don't know which way to go, yeah
Cuz we're just ordinary people
Maybe we should take it slow
We're just ordinary people
We don't know which way to go


Cuz we're just ordinary people
Maybe we should take it slow
Take it slow
This time we'll take it slow
Take it slow
This time we'll take it slow
Take it slow, slow
This time we'll take it slow
Take it slow
This time we'll take it slow





Ordinary People - John Legend



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terça-feira, 15 de setembro de 2015

Amo o vermelho


Amo o vermelho. Amo-te, ó hóstia do sol-posto!



Fascina-me o escarlate. Os meus tédios estanca:



E apezar d'isso, ó cruel hysteria do Gosto,



Certa flor da minh'alma é branca, branca, branca...


António Nobre, in 'Só'



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domingo, 13 de setembro de 2015

Quando saíres fecha a porta



Deste palácio abandonado mandei arrancar todas as portadas.
No seu lugar ficaram as janelas por onde entra o mundo.
O nó que sentes na garganta é o início de uma amigdalite vitalícia.
Há-de descer-te pelos pulmões até ao coração inflamado.
Aqui há correntes de ar impróprias às fragilidades humanas.
Restringimos a complacência a fraquezas de origem divina.




Neste palácio abandonado não há gaiolas fechadas.
Os pássaros fazem o ninho nas palmas das minhas mãos abertas
E as crias debicam-me as nozes dos dedos por onde escorreram os anéis.
Em tempos houve rubis. Mas as pedras são frias.
Se não tens cuidado congelam-te o olhar.
Troquei-os por duas ou três gotas de sangue nas veias.




Por este palácio abandonado passeia-se em fúria o vento norte.
Rouba a areia das praias para desenhar as dunas que me servem de cama
E pelas frinchas dos sonhos sopra acordes de orquestra que me embalam.
O silvo que te rodeia os ouvidos é a agonia do vento norte
há-de instalar-se no interior da tua memória e ensurdecer-te.
Aqui ouve-se uma música imprópria às fragilidades humanas.




Por isso, por favor, quando saíres fecha a porta.




Poema "Quando saíres fecha a porta" de "Cuca, a Pirata", em "Stars & Mythical Creatures"



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