Janeiro não é de confiar. Dispõe
De estratagemas. Um gato não seria
Mais astucioso
Janeiro manda-nos a neve e a geada
Para que brinquem connosco à cabra-cega
Na esperança de nos ver, no ardor do jogo,
Cair desamparados, fracturando
Ossos e perdendo dentes
E rasgando roupas – e Janeiro
A rir-se disso.
Quem deu a Janeiro tais maquinações,
Tão longo catálogo de facas,
Tão certeira pontaria com que nos crava
Na carne as facas e na alma
As maquinações?
“Quarteto de Janeiro”, parte 3, de A. M. Pires Cabral, in
“Caderneta de Lembranças”
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