Janeiro entardece cedo, embrulhado
Em silêncios que preparam o cenário
Para a invenção da cor vermelha.
É como se tivessem derramado a oeste
Nas nuvens desgarradas do ocaso,
Uma tinta escarlate
E o escarlate alastrasse e sumisse o sol.
Ou como se alguém com negligência
Tivesse esfolado um animal
Nos incertos territórios do poente
Deixando o céu salpicado de sangue.
Seja por que razão for, o pôr-do-sol
Hoje está rubro, como os poetas gostam.
Mas andam no ar presságios e ameaças:
Qualquer coisa pode estar a caminho do fim
Ou de um recomeço entre tumultos.
Com a frieza própria das metáforas,
Resta a dúvida de sempre
Ao fim deste dia de Janeiro
Que acaba amortalhado em cores sangrentas:
Morrer é assim rubro – ou incolor?
Poema: “Quarteto de Janeiro”, parte 4, de A. M. Pires Cabral, in “Caderneta de Lembranças”
______________________________________________
Sem comentários:
Enviar um comentário