domingo, 29 de junho de 2014
sábado, 28 de junho de 2014
sexta-feira, 27 de junho de 2014
quinta-feira, 26 de junho de 2014
segunda-feira, 16 de junho de 2014
Poética
Quero que o meu poema fale de barcos e de azul, fale
do mar e do corpo que o procura, fale de pássaros e
do céu em que habitam. Quero um poema puro, limpo
do lixo das coisas banais, das contaminações de quem
só olha para o chão; um poema onde o sublime nos
toque, e o poético seja a palavra plena. É este poema
que escrevo na página branca como a parede que
acabou de ser caiada, com as suas imperfeições
apagadas pela luz do dia, e um reflexo de sol
a gritar pela vida. E quero que este poema desça
às caves onde a miséria se acumula, aos bancos onde
dormem os que não têm tecto nem esperança,
às mesas sujas dos restos da madrugada, às
esquinas onde a mulher da noite espera o último
cliente, ao desespero dos que não sabem para onde
fugir quando a morte lhes bate à porta. E canto
a beleza que sobrevive às frases comuns, às
palavras sujas pelo quotidiano dos medíocres,
aos versos deslavados de quem nunca ouviu
o grito do anjo. E digo isto para que fique, no
poema, como a pedra esculpida por um fogo divino.
Nuno Júdice, A matéria do poema
sexta-feira, 13 de junho de 2014
terça-feira, 10 de junho de 2014
Alfama é linda!
Alfama não envelhece
E hoje parece
Mais nova ainda
Iluminou as janelas
Reparem nelas
Como está linda.
Vestiu a blusa clarinha
Que a da vizinha
É mais modesta
E pôs a saia garrida
Que só é vestida
Em dias de festa
Becos, escadinha, ruas estreitinhas
Onde em cada esquina há uma bailarico
Trovas p'las vielas e em todas elas
Perfume de manjerico
Risos gargalhadas, fados desgarradas,
Hoje em Alfama é um demónio
E em cada canto, um suave encanto
De um trono de Santo António.
Já se não ouvem cantigas
E as raparigas
De olhos cansados
Ainda aproveitam o ensejo
De mais um beijo
Dos namorados
Já se ouvem sinos tocando
Galos cantando
À desgarrada
E mesmo assim dona Alfama
Só volta p'rá cama
Quando é madrugada.
______________________________________________
segunda-feira, 9 de junho de 2014
domingo, 8 de junho de 2014
sábado, 7 de junho de 2014
Pátio Sevilhano
Manolo Sanchez de Sevilha
ombros de lenha despontados
sua faca de amor amola
em esmeril de manzanilha
que rico olor tienen los nardos.
Noite indormida de mariscos
sangrando ulmeiros e cavalos
mastigação de flores de aveia
Manolo Sanchez vara de mimbre
que a minha hera serpenteia
sua crescente lenha de macho
em perfeição de dor se queima.
Ai ojos quites andaluzes
passes de peito da tristeza
manoletinas de soluços:
eres mi novia portuguesa.
Obsoleta a lua deixa
que com sua dor de ponta e mola
Manolo lhe corte uma madeixa.
Manolo Sanchez de Sevilha
em carbúnculo de adeus ficado!
Da amada reconhecível
não era a fonte não era a hora
seu sumo de desaparecida
tua língua refresca agora.
Ai contraluz de intáctil noiva
postumamente germinada!
Em tua tela cor da sede
sequestro verde de mulher água.
Natália Correia, Mátria (VII)
sexta-feira, 6 de junho de 2014
segunda-feira, 2 de junho de 2014
Gisela João. Sim … gosto muito desta mulher!
Já por AQUI (e AQUI e AQUI) falei da Gisela … e falarei … mas nunca tantas vezes quantas as que ela merece, ou as que eu a escuto, cada vez com mais prazer ...
Sabe tão bem quando ela enche a alma, franze a testa e canta, canta, canta ...
Vieste do fim do mundo
num barco vagabundo
Vieste como quem
tinha que vir para contar
histórias e verdades
vontades e carinhos
promessas e mentiras de quem
de porto em porto amar se faz.
Vieste de repente
de olhar tão meigo e quente
bebeste a celebrar
a volta tua
tomaste-me em teus braços
em marinheiros laços
tocaste no meu corpo uma canção
que em vil magia me fez tua.
Subiste para o quarto
de andar tão mole e farto
de beijos e de rum
a noite ardeu
cobri-me em tatuagens
dissolvi-me em viagens
com pólvora e perdões tomaste
o meu navio que agora é teu.
(Poema e música do João Loio)
Vim para Lisboa a 1 de Agosto de 2010, mesmo à emigrante. A
30 de Julho, uma amiga minha, a Paula, que tem uma loja de tatuagens no Porto,
ligou-me. Estava numa fase difícil por me vir embora, para o incerto. Ela
disse-me que tinha uma prenda para mim e mostrou-me o desenho. Eu disse “bora lá”.
Ficou. Fica ao contrário quando estou ao microfone mas é mesmo para me esquecer
dela. Assim nunca me vou cansar.
(Gisela João numa entrevista ao jornal i no já longínquo ano de 2012, disponível AQUI).
(Gisela João numa entrevista ao jornal i no já longínquo ano de 2012, disponível AQUI).
É assim, simples.
E como se não bastasse cantar tão bem e transmitir uma simpatia contagiante, a miúda é muito gira.
E como se não bastasse cantar tão bem e transmitir uma simpatia contagiante, a miúda é muito gira.
Não é?
domingo, 1 de junho de 2014
Coisas Que Não Há Que Há
(a propósito do Dia Mundial da Criança)
Uma coisa que me põe triste
é que não exista o que não existe.
(Se é que não existe, e isto é que existe!)
Há tantas coisas bonitas que não há:
coisas que não há, gente que não há,
bichos que já houve e já não há,
livros por ler, coisas por ver,
feitos desfeitos, outros feitos por fazer,
pessoas tão boas ainda por nascer
e outras que morreram há tanto tempo!
Tantas lembranças de que não me lembro,
sítios que não sei, invenções que não invento,
gente de vidro e de vento, países por achar,
paisagens, plantas, jardins de ar,
tudo o que eu nem posso imaginar
porque se o imaginasse já existia
embora num lugar onde só eu ia...
Manuel António Pina, in O Pássaro da Cabeça e mais versos para crianças
Uma coisa que me põe triste
é que não exista o que não existe.
(Se é que não existe, e isto é que existe!)
Há tantas coisas bonitas que não há:
coisas que não há, gente que não há,
bichos que já houve e já não há,
livros por ler, coisas por ver,
feitos desfeitos, outros feitos por fazer,
pessoas tão boas ainda por nascer
e outras que morreram há tanto tempo!
Tantas lembranças de que não me lembro,
sítios que não sei, invenções que não invento,
gente de vidro e de vento, países por achar,
paisagens, plantas, jardins de ar,
tudo o que eu nem posso imaginar
porque se o imaginasse já existia
embora num lugar onde só eu ia...
Manuel António Pina, in O Pássaro da Cabeça e mais versos para crianças
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