quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Pedro e Inês

Ainda a propósito dos nossos grandes reis, todos recordamos D. Pedro I como protagonista da mais conhecida história de amor cá do canto.

Mas D. Pedro tem o cognome de “O Justiceiro”, o que se compreende. Não o deixaram amar a formosa Inês de Castro, a qual, a mando do pai de D. Pedro (D. Afonso IV) foi decapitada na primavera de 1355. Por isso, D. Pedro passou uma vida sanguinária, na busca do castigo para os autores do encomendado crime.

Mas são conhecidos outros episódios da justiça grotesca deste rei. Uma ocasião D. Pedro soube que o bispo do Porto vivia em descarada barregamia com uma mulher casada e roubada ao marido que entretanto o prelado expulsara bem “enfeitado” ordem que – como conta Fernão Lopes – “este cumpria com medo que lhe tirassem a vida como lhe tinham tirado a consorte”. Encolerizado, D. Pedro chamou o bispo pecaminoso ao paço, ordenando-lhe que pusesse termo a uma situação tão degradante. Irredutível o bispo, por ser coisa tão comum, viu-se logo ali chicoteado e “desprovido da sua virilidade”.

Mas o bispo do Porto não foi o único que D. Pedro mandou capar … O mesmo aconteceu com um gentil mancebo Afonso Madeira, pajem de el-rei “que muito o amava, mais do que se deve aqui dizer …”, para usar uma vez mais as palavras de Fernão Lopes. Este Pajem caiu de amores por uma dama, esposa do corregedor Lourenço Gonçalves, e senhora de uma louçã e castiça beleza. Marido e rei descobriram o prevaricador, mandando el-rei que o castrassem.

Mas o nome de justiceiro não foi atribuído ao rei por esta justiça pequena. É que, apesar de D. Pedro ter jurado sobre os Evangelhos que perdoava aos assassinos de Inês de Castro (assim fazendo a vontade de sua mãe D. Beatriz), o rei não descansou enquanto não lhes tratou da saúde …

Durante toda a vida, D. Pedro nunca esqueceu a bela Inês, nem os seus “brutos matadores”. Conseguiu deitar a mão a Pêro Coelho e fez-lhe arrancar o coração pelo peito assistindo à execução enquanto se banqueteava, e apanhou Álvaro Gonçalves e arrancou-lhe o coração pelas costas. Escapou Diogo Lopes Pacheco que fugiu para França. Consta que o rei lhe perdoou no leito de morte.

Quanto à Inês de Castro, D. Pedro fê-la coroar rainha. Conta também a tradição que Pedro teria feito desenterrar o corpo da amada, obrigando os nobres a procederem à cerimónia do beija-mão real ao cadáver, sob pena de morte.

Isto é que era JUSTIÇA! Um bocadinho tétrica, é verdade, mas bem diferente desta justiça pequena em que naufragam os nossos tribunais, boiando em leis de curta visão.

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