Aquele cacto lembrava os gestos desesperados da estatuária: 
Laocoonte constrangido pelas serpentes, 
Ugolino e os filhos esfaimados. 
Evocava também o seco Nordeste, carnaubais, caatingas... 
Era enorme, mesmo para esta terra de feracidades
excepcionais. 
Um dia um tufão furibundo abateu-o pela raiz. 
O cacto tombou atravessando na rua, 
Quebrou os beirais do casario fronteiro, 
Impediu o trânsito de bondes, automóveis, carroças, 
Arrebentou os cabos elétricos e durante vinte e quatro horas
privou a cidade de iluminação e energia: 
 – Era belo, áspero,
intratável. 
(poema “o cacto”, do brasileiro Manuel Bandeira)
Para quem não conhece a estátua de Laocoonte, é porque anda
a adiar uma visita ao museu do Vaticano (e/ou uma visita à galeria Uffizi em
Florença, onde se encontra exposta uma reprodução feita pelo escultor Baccio
Bandinelli).
O grupo Laocoonte é
uma sólida peça feita em mármore (também conhecida como Laocoonte e seus filhos).
A escultura quando foi descoberta em 1506 encontrava-se quebrada em cinco
blocos. Além de danificada, estava incompleta, pois faltava o braço direito da
figura do sacerdote. O papa Júlio II determinou a sua restauração, e para isso
instituiu uma comissão informal de artistas para realizar o trabalho de recomposição
da importante peça reconhecida como representativa do período helenístico da
civilização grega. 
A restauração do braço instaurou uma célebre polêmica entre
Michelangelo e os demais escultores. Ele dizia que o braço deveria ficar
dobrado para se adequar ao movimento do corpo do sacerdote. Os outros diziam
que o braço deveria ficar esticado, pelas mesmas razões. Rafael, presidente do
júri, optou pela forma do braço esticado, e dessa maneira, a estátua foi
restaurada. 
A história veio dar razão a Michelangelo 450 anos depois. Em
1957, o verdadeiro braço perdido foi encontrado num antiquário italiano, tal
como havia previsto Michelangelo: dobrado sobre o ombro. A partir de então, a
estátua passou a ser exibida com o braço restaurado na sua posição original,
conforme se vê na foto.
Não se sabe a data exata da composição dessa impressionante
estátua, que mede 2,44 m de altura. Mas, pensa-se que terá sido perto do ano 40
a.C. A autoria da obra é atribuída por Plínio a Agesandro, Atenodoro e
Polidoro, três escultores da ilha de Rodes
Quanto à história de Laocoonte remonta à lendária Guerra de Tróia e ao famoso episódio do cavalo de madeira doado pelos gregos aos troianos.
Segundo o mito, Laocoonte era sacerdote em Tróia, e denunciou o perigo que representava aceitar aquele “presente grego”. Foi morto, juntamente com os dois filhos, por duas serpentes a mando da deusa Atena.
O sofrimento da injusta punição do pregador foi relatado de diversas maneiras por uma grande variedade de autores nas várias artes. É a ele que Manuel Bandeira também se referia no citado poema “O Cacto”.
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