quarta-feira, 28 de maio de 2014

Um momento ... e uma máxima ...


"A vida é como a ganza, tem que ser partilhada!"


_____________________________________

terça-feira, 27 de maio de 2014

Poema do gato


Quem há-de abrir a porta ao gato
quando eu morrer?

Sempre que pode
foge prá rua
cheira o passeio
e volta pra trás,
mas ao defrontar-se com a porta fechada
(pobre do gato)
mia com raiva
desesperada.

Deixo-o sofrer
que o sofrimento tem a sua paga,
e ele bem sabe.

Quando abro a porta corre pra mim
como acorre a mulher aos braços do amante.
Pego-lhe ao colo e acaricio-o
num gesto lento,
vagarosamente,
do alto da cabeça até ao fim da cauda.
Ele olha-me e sorri, com os bigodes eróticos,
olhos semi-cerrados, em êxtase,
ronronando.



Repito a festa,
vagarosamente,
do alto da cabeça até ao fim da cauda.
Ele aperta as maxilas,
cerra os olhos,
abre as narinas,
e rosna,
rosna, deliquescente,
abraça-me
e adormece.

Eu não tenho gato, mas se o tivesse
quem lhe abriria a porta quando eu morresse?

António Gedeão, Obra Poética 




segunda-feira, 26 de maio de 2014

O Douro

Todos temos um rio na nossa história... este é o meu.








"O Douro sublimado. O prodígio de uma paisagem que deixa de o ser à força de se desmedir. Não é um panorama que os olhos contemplam: é um excesso da natureza. Socalcos que são passadas de homens titânicos a subir encostas, volumes, cores e modulações que nenhum escultor, pintor ou músico podem traduzir, horizontes dilatados para além dos limiares plausíveis da visão. Um universo virginal, como se tivesse acabado de nascer, e já eterno pela harmonia, pela serenidade, pelo silêncio que nem o rio se atreve a quebrar, ora a sumir-se furtivo por detrás dos montes, ora pasmado lá no fundo a reflectir o seu próprio assombro. Um poema geológico. A beleza absoluta."

Miguel Torga, Diário XII

domingo, 25 de maio de 2014

Úria … Samuel Úria

Ontem fui ao CCB ver e ouvir o Samuel deambulando pelas músicas do “Nem Lhe Tocava” e do “Grande Medo do Pequeno Mundo”.

Tanto quanto consegui apurar a foto é de Rita Carmo

Não há volta a dar … eu gosto deste rapaz.
Ele é um verdadeiro espalha brasas …


É diferente …
Fala bem …
Morde mentes, escolhe frentes 
Espalha brasas, trá-las ainda mais quentes.

E, já agora, se quiserem ouvir a versão do “Espalha brasas” registada no “Grande Medo do Pequeno Mundo”. Vai assim …


_______________________________________

Antes de mais um sábado de técnica fotográfica …

… alguns registos numa pitoresca zona de Lisboa.

 ... a casa da Mariquinhas ...

 ... o gato da vizinha ...

 ... a vizinha do gatinho ...

 ... o graffti animado ...

 ... num beco ali ao lado ...

 ... e a Virgem das Necessidades ... com cabelo ondulado!


sábado, 24 de maio de 2014

Palavras gravadas em pedra


... e as palavras são uma vez mais do Fernando, digo, do Alberto Caeiro ...


_________________________________________

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Votar


















“O Sufrágio” pintura de José Maria Veloso Salgado (Museu da Cidade – Lisboa).

"Eu não voto por rótulos. (...) Eu não quero saber das campanhas eleitorais para nada. Eu quero saber das ideias que as pessoas têm e da maneira como depois as vão defender e praticar."

… do saudoso Agostinho da Silva

A campanha eleitoral está quase a terminar.
Claro que estamos todos esclarecidos sobre as ideias dos candidatos.

Já agora, estas eleições são para quê?

_______________________________________

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Há noites



Há noites que são feitas dos meus braços
E um silêncio comum às violetas.
E há sete luas que são sete traços
De sete noites que nunca foram feitas.

Há noites que levamos à cintura
Como um cinto de grandes borboletas.
E um risco a sangue na nossa carne escura
Duma espada à bainha dum cometa.

Há noites que nos deixam para trás
Enrolados no nosso desencanto
E cisnes brancos que só são iguais
À mais longínqua onda do seu canto.

Há noites que nos levam para onde
O fantasma de nós fica mais perto;
E é sempre a nossa voz que nos responde
E só o nosso nome estava certo.

Há noites que são lírios e são feras
E a nossa exactidão de rosa vil
Reconcilia no frio das esferas
Os astros que se olham de perfil.

Natália Correia, "A Recusa das Imagens Evidentes", IV

quarta-feira, 21 de maio de 2014

O Cacto que lembrava Laocoonte


Aquele cacto lembrava os gestos desesperados da estatuária:
Laocoonte constrangido pelas serpentes,
Ugolino e os filhos esfaimados.
Evocava também o seco Nordeste, carnaubais, caatingas...
Era enorme, mesmo para esta terra de feracidades excepcionais.

Um dia um tufão furibundo abateu-o pela raiz.
O cacto tombou atravessando na rua,
Quebrou os beirais do casario fronteiro,
Impediu o trânsito de bondes, automóveis, carroças,
Arrebentou os cabos elétricos e durante vinte e quatro horas privou a cidade de iluminação e energia:
 – Era belo, áspero, intratável.


(poema “o cacto”, do brasileiro Manuel Bandeira)



Para quem não conhece a estátua de Laocoonte, é porque anda a adiar uma visita ao museu do Vaticano (e/ou uma visita à galeria Uffizi em Florença, onde se encontra exposta uma reprodução feita pelo escultor Baccio Bandinelli).
O grupo Laocoonte é uma sólida peça feita em mármore (também conhecida como Laocoonte e seus filhos). A escultura quando foi descoberta em 1506 encontrava-se quebrada em cinco blocos. Além de danificada, estava incompleta, pois faltava o braço direito da figura do sacerdote. O papa Júlio II determinou a sua restauração, e para isso instituiu uma comissão informal de artistas para realizar o trabalho de recomposição da importante peça reconhecida como representativa do período helenístico da civilização grega.
A restauração do braço instaurou uma célebre polêmica entre Michelangelo e os demais escultores. Ele dizia que o braço deveria ficar dobrado para se adequar ao movimento do corpo do sacerdote. Os outros diziam que o braço deveria ficar esticado, pelas mesmas razões. Rafael, presidente do júri, optou pela forma do braço esticado, e dessa maneira, a estátua foi restaurada.
A história veio dar razão a Michelangelo 450 anos depois. Em 1957, o verdadeiro braço perdido foi encontrado num antiquário italiano, tal como havia previsto Michelangelo: dobrado sobre o ombro. A partir de então, a estátua passou a ser exibida com o braço restaurado na sua posição original, conforme se vê na foto.
Não se sabe a data exata da composição dessa impressionante estátua, que mede 2,44 m de altura. Mas, pensa-se que terá sido perto do ano 40 a.C. A autoria da obra é atribuída por Plínio a Agesandro, Atenodoro e Polidoro, três escultores da ilha de Rodes


Quanto à história de Laocoonte remonta à lendária Guerra de Tróia e ao famoso episódio do cavalo de madeira doado pelos gregos aos troianos.
Segundo o mito, Laocoonte era sacerdote em Tróia, e denunciou o perigo que representava aceitar aquele “presente grego”. Foi morto, juntamente com os dois filhos, por duas serpentes a mando da deusa Atena.
O sofrimento da injusta punição do pregador foi relatado de diversas maneiras por uma grande variedade de autores nas várias artes. É a ele que Manuel Bandeira também se referia no citado poema “O Cacto”.


As coisas que se aprendem na internet … designadamente AQUI e AQUI

________________________________________

O Metal



É de música que falo
quando meto as mãos à terra,
do domínio rigoroso
dessa regra instável e perfeita,
quando toco
levemente
a pele
de todos os crepúsculos de bronze.

A matéria corre pelos rios
cresce e faz-se torre
ou espada
ou ponte.

Benditos os que sabem
dar-lhe voz
acendendo o fogo
ou soltando
o suspiro de uma flauta

José Fanha "Elogio dos Peixes, das Pedras e dos Simples"

NUMA FOTOGRAFIA



Não sejas como a névoa, nem quimera.
Demora-te, demora-te assim:
faz do olhar
tempo sem tempo, espaço
limpo - do deserto ou do mar.

Eugénio de Andrade "O Outro Nome da Terra"

terça-feira, 20 de maio de 2014

Voar


Antes o vôo da ave, que passa e não deixa rasto,
Que a passagem do animal, que fica lembrada no chão.
A ave passa e esquece, e assim deve ser.
O animal, onde já não está e por isso de nada serve,
Mostra que já esteve, o que não serve para nada.
A recordação é uma traição à Natureza,
Porque a Natureza de ontem não é Natureza.
O que foi não é nada, e lembrar é não ver.
Passa, ave, passa, e ensina-me a passar!

(Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema XLIII")

























____________________________________________

domingo, 18 de maio de 2014

Esses amigos























Eu conheço os homens pelos olhos,
pelo modo como trazem dentro
o seu pedaço de humanidade.
Sei quando um homem ergue a sua
mão direita para a árvore mais alta,
e quando o seu coração anseia
parecer-se com o mundo.

Eu não meço os homens
segundo as suas crenças: o importante
é o lugar onde cada um guarda a sua miséria,

e quando uma certa pobreza pousa no andar,
como uma luz que nada sabe,
eu sei que importante não é o que se tem,
mas o tamanho da recusa.

Eu não aprecio os homens
pelo que dizem ou fazem,
mas pelo abismo que deixam em nós
quando passam. Alguns homens são como janelas
por onde olhamos sem jamais conseguirmos encher
o nosso olhar. Outros são leves e transparentes
e percorrem os jardins da nossa vida
até que um dia não regressam.
Todos temos na nossa vida alguém que um dia
não voltou. Alguém que antes de partir
nos disse até logo levando a mão direita ao coração
e depois cruzou a porta para uma dor sem fundo.

Tão pouco admiro nos homens o domínio da certeza.
Nos animais e nas coisas
admiro antes a evidência do silêncio
e as feridas das ausências.
Sei que tudo um dia se quebra,
porque sei que tudo o que existe é frágil
e caminha para dentro. Às vezes olho o que há de mim
nos outros e compreendo que todos somos
dias de mar junto à praia, olhares de passagem pela água.
Por isso,
mais do que a força ou a coragem
nos homens admiro a nobreza na queda
e a humildade na subida.

Olhando as estrelas, que jamais alcançam,
eu conheço o olhar desses homens
que têm passado por mim. Os seus gestos amigáveis,
as palavras generosas e ternas,
as mãos que nunca sabem fechar-se
senão para abrir-se mais e sempre mais.

Eles respiram e amam com franqueza,
às vezes parecem pedras, mas são como as flores,
às vezes não os vemos,
mas é porque estão mesmo a nosso lado.
Na minha vida conheci alguns desses homens

que frequentam os lugares onde as rosas crescem.
Alguns caminharam a meu lado. Outros dão-me a sua
mão amiga sempre que preciso
e nunca por nunca se esquecem de mim.
São os meus amigos: esses amigos.

Observo-os
e um dia espero parecer-me com eles.


(Carlos Lopes Pires)


_________________________________________

Mais um sábado a aprender a fotografar …



... profundidade de campo, prioridade à abertura, equilíbrio de brancos, modo macro, velocidade de obturação 250, distância focal, ISO, ponderação ao centro, abertura f 4.5, compensação … SOCORRO!!!!




segunda-feira, 12 de maio de 2014

No "Champalimaud Centre for the Unknown"

           



________________________________________________

domingo, 11 de maio de 2014

Resultados de um sábado a aprender a fotografar …





A fotografia é uma forma de ficção. É ao mesmo tempo um registo da realidade e um auto-retrato, porque só o fotógrafo vê aquilo daquela maneira.

Gérard Castello Lopes


sexta-feira, 9 de maio de 2014

Em Carne Cor-de-Rosa Encarnada




Este colorido grafitti fez-me lembrar a peça de teatro “Em Carne Cor-de-Rosa Encarnada”, escrita por Miguel Esteves Cardoso no longínquo ano de 1982, a qual vi, nesse mesmo ano, representada por Graça Lobo e Luís Madureira, no Teatro Villaret.


1982 … 1982???  .......... que horror!!!! 



___________________________________________

quinta-feira, 8 de maio de 2014

Visita-me enquanto não envelheço





visita-me enquanto não envelheço 
toma estas palavras cheias de medo e surpreende-me 
com teu rosto de Modigliani suicidado 

tenho uma varanda ampla cheia de malvas 
e o marulhar das noites povoadas de peixes voadores 

ver-me antes que a bruma contamine os alicerces 
as pedras nacaradas deste vulcão a lava do desejo 
subindo à boca sulfurosa dos espelhos 

antes que desperte em mim o grito 
dalguma terna Jeanne Hébuterne a paixão 
derrama-se quando tua ausência se prende às veias 
prontas a esvaziarem-se do rubro ouro 

perco-te no sono das marítimas paisagens 
estas feridas de barro e quartzo 
os olhos escancarados para a infindável água 

com teu sabor de açúcar queimado em redor da noite 
sonhar perto do coração que não sabe como tocar-te 

Al Berto, in 'Salsugem'


























________________________________________________

terça-feira, 6 de maio de 2014

Olhares





____________________________________________

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Baralhando a “Regra dos Terços”




A “regra dos terços” é uma norma fotográfica que recomenda que se divida a fotografia em 9 quadros, traçando duas linhas horizontais e duas linhas verticais, imaginárias.

Para se obter uma fotografia equilibrada, deve posicionar-se o assunto que se deseja destacar nos pontos de cruzamento das referidas linhas.


Se existem linhas na imagem, deve tentar-se posicioná-las junto às referidas linhas imaginárias.

Quando não se quer destacar nada, restam as linhas …

E quando se quer algo mais ... há que baralhar a regra!


(Um post dedicado aos meus novos colegas aprendizes de fotografia)


______________________________________________________

domingo, 4 de maio de 2014

Um poema para a minha mãe




Quando eu nasci, 
ficou tudo como estava, 
Nem homens cortaram veias, 
nem o Sol escureceu, 
nem houve Estrelas a mais... 
Somente, 
esquecida das dores, 
a minha Mãe sorriu e agradeceu.

Quando eu nasci, 
não houve nada de novo 
senão eu.

As nuvens não se espantaram, 
não enlouqueceu ninguém...

P'ra que o dia fosse enorme, 
bastava 
toda a ternura que olhava 
nos olhos de minha Mãe...


Sebastião da Gama
____________________________________________

Idade




Conheci dias duradouros, 
o sol tão longo entre manhã e tarde. 
Um levantar súbito de luz 
por trás da crista das heras no muro velho, 
e depois descer no verão entre grades verdes 
e para além do portão como a cair no Hades, 
no inverno. Não havia tempo 
nos dias longos, mas a passagem diária 
do sol abençoado.


"Idade" de Fiama Hasse Pais Brandão



_______________________________________________________

sábado, 3 de maio de 2014

Acabou … mas foi efetivamente bonita a festa, pá!
























A propósito, deixo o LINK para uma excelente reportagem do jornal Público cujo curioso título é:




_____________________________________________