Há dias, viajando de comboio, lia a crónica de António Lobo Antunes publicada na revista Visão de 1 de Abril de 2010, e o escrito até me pareceu mentira …
Escreveu Lobo Antunes na crónica que podem ver na íntegra AQUI, com o título “Crónica de muito amor”:
(…) Com o meu irmão Pedro, por exemplo, darmos o braço é fazermos chichi juntos, no escuro, junto à cascata do jardim dos meus pais, com um comentário sobre o jacto respectivo. Depois sacudirmos os pingos ao mesmo tempo porque a pila não sabe fungar. Então abotoamo-nos e cada um vai para o seu lado, em silêncio. Deve ser difícil as mulheres entenderem isto mas, para os homens, fazer chichi lado a lado, ao ar livre, é sinal de amizade, a olharmos para baixo, cheios de duplos queixos. Tanto che che che nesta frase. Fazer chichi na rua é um dos meus prazeres, devo ter sido cachorro noutra encarnação. Detesto urinóis, retretes: haverá alguma coisa que se compare à exaltação de mijar contra uma parede? Às vezes, a seguir ao jantar, digo ao Pedro - Já mijaste? sabendo que ele estava à minha espera para essa celebração da cumplicidade. Nem que sejam três gotas faz-se um esforço. Vemos as árvores, vemos o muro, não nos vemos um ao outro mas estamos ali. Nem quero pensar na ideia de fazer chichi sozinho. No fim pergunta-se - Como é que estás? sabendo que o parceiro se cala.
Para quem viajava apertadinho no comboio, esta leitura era um desafio à resistência bexigal! Com uma janela virada para os agora verdes e floridos campos alentejanos, não pude deixar de pensar no quão agradável é um chichi ao ar livre, encostado a uma árvore. Admito também ter tido alma canina noutra encarnação! E que bom é recordar a juventude, melhor a meninice, quando à saída da escola nos alinhávamos em fila para transformar a valeta em urinol! Há quanto tempo Deus meu! Pode parecer pouco higiénico … mas o prazer tem que conter alguns excessos. E quantas vezes sorrimos e repetimos em coro ao som dos salpicos amarelados:
“Quando mija um português, mijam sempre dois ou três!”
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