sábado, 7 de fevereiro de 2009

Ovos estrelados

Quando há dias vi um dos episódios da série "O sentido do gosto" (programa gastronómico da RTP apresentado por José Manuel Bento dos Santos) salivei, como sempre que vejo aquele homem apresentar comida como se fosse fácil cozinhar e apresentar todas aquelas receitas com aquele aspecto mágico. Este programa era sobre ovos. E lembrei-me de como eu gosto de ovos. Enfim, não daqueles ovos “mágicos”, com a apresentação “divina” do Bento dos Santos, mas dos mágicos e divinos ovos estrelados. Como eu gosto de ovos estrelados!

Embora não goste muito de apresentar as coisas nestes termos, porque são muito redutoras (aquelas perguntinhas, qual a música que gostas mais, qual o filme da tua vida, etc., são caricatas e não podem obter respostas sérias…), mas se tivesse que elencar algumas das comidas de que gosto mais, os ovos estrelados estariam entre as minhas 10 iguarias preferidas.

Não querem saber disso? Pois, mas agora já leram!

Faço aqui esta referência aos ovos porque no livro que estou a ler - “A Mesa voadora” do Luís Fernando Veríssimo - o autor apresenta um texto sobre ovos. E ele é dos meus. Por isso, sem querer violar os seus direitos de autor, deixo-vos aqui parte dessas páginas que estou a degustar. Sim, este livro em especial, é de ler, sorver e saborear. Traduz os apetites do autor de uma forma “mágica”, “divina”!. Enfim, temos aqui algum exagero, mas com isto viso apenas aguçar-vos o apetite.

Se não conseguirem encontrar o livro (nem sei se está editado em Portugal, pois foi um dos que eu comprei no Brasil … melhor, no Brazil que é assim que se escreve por lá!) peçam que eu empresto …

Escreve assim o Veríssimo sobre o “Ovo”:

«Agora essa. Descobriram que ovo, afinal, não faz mal. Durante anos nos aterrorizaram. Ovos eram bombas de colesterol. Não eram apenas desaconselháveis, eram mortais. Você podia calcular em dias o tempo de vida perdido cada vez que comia uma gema.

Cardíacos deviam desviar o olhar se um ovo fosse servido num prato vizinho: ver ovo fazia mal. E agora estão dizendo que foi tudo um engano, o ovo é inofensivo. O ovo é incapaz de matar uma mosca. A próxima notícia será que bacon limpa as artérias.

Sei não, mas me devem algum tipo de indenização. Não se renuncia a pouca coisa quando se renuncia a ovo frito. Dizem que a única coisa melhor do que ovo frito é sexo. A comparação é difícil. Não existe nada no sexo comparável a uma gema deixada intacta em cima do arroz depois que a clara foi comida, esperando o momento de prazer supremo quando o garfo romperá a fina membrana que a separa do êxtase e ela se desmanchará, sim, ela se desmanchará, e o líquido quente e viscoso se espalhará pelo arroz como as gazelas douradas entre os lírios de Gileade nos cantares de Salomão, sim, e você levará o arroz à boca e o saboreará até o último grão molhado, sim, e depois ainda limpará o prato com o pão. Ou existe e eu é que tenho andado na turma errada. O fato é que quero ser ressarcido de todos os ovos fritos que não comi nestes anos de medo inútil. E os ovos mexidos, e os ovos quentes, e as omeletes babadas, e os toucinhos do céu e, meu Deus, os fios de ovos. Os fios de ovos que não comi para não morrer dariam variam voltas no globo. Quem os trará de volta? E pensar que cheguei a experimentar ovo artificial, uma pálida paródia de ovo que, esta sim, deve ter me roubado algumas horas de vida a cada garfada infeliz.

Ovo frito na manteiga? O rendado marrom das bordas tostadas da clara, o amarelo provençal da gema… Eu sei, eu sei. Manteiga ainda não foi liberada. Mas é só uma questão de tempo».


Uhmmmmmm! Um ovo estrelado!
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1 comentário:

Anónimo disse...

Ideia,
Faço meus os teus apetites "ovais".
Quanto ao Luis Fernando, tou na fila.
Achei gira a palavra que me calhou na verificação: "talike"ual!