quarta-feira, 25 de abril de 2018

Os Amantes Sem Dinheiro


Tinham o rosto aberto a quem passava.
Tinham lendas e mitos
e frio no coração.
Tinham jardins onde a lua passeava
de mãos dadas com a água
e um anjo de pedra por irmão.

Tinham como toda a gente
o milagre de cada dia
escorrendo pelos telhados;
e olhos de oiro
onde ardiam
os sonhos mais tresmalhados.

Tinham fome e sede como os bichos,
e silêncio
à roda dos seus passos.
Mas a cada gesto que faziam
um pássaro nascia dos seus dedos
e deslumbrado penetrava nos espaços.

Eugénio de Andrade, Os Amantes Sem Dinheiro

2 comentários:

Cuca, a Pirata disse...

Olha, os donos desta casa encontraram as chaves...
(E o histórico das datas denuncia um certo trauma com as ocupações comunas :)))

Milou disse...

Foram os cravos que me denunciaram?...