domingo, 6 de novembro de 2016

Esta gente


Esta gente cujo rosto
Às vezes luminoso
E outras vezes tosco 


Ora me lembra escravos
Ora me lembra reis


Faz renascer meu gosto
De luta e de combate
Contra o abutre e a cobra
O porco e o milhafre 


Pois a gente que tem
O rosto desenhado
Por paciência e fome
É a gente em quem
Um país ocupado
Escreve o seu nome 


E em frente desta gente
Ignorada e pisada
Como a pedra do chão
E mais do que a pedra
Humilhada e calcada 


Meu canto se renova
E recomeço a busca
De um país liberto
De uma vida limpa
E de um tempo justo 



 Poema de Sophia de Mello Breyner Andresen, in "Geografia"



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