domingo, 13 de setembro de 2015

Quando saíres fecha a porta



Deste palácio abandonado mandei arrancar todas as portadas.
No seu lugar ficaram as janelas por onde entra o mundo.
O nó que sentes na garganta é o início de uma amigdalite vitalícia.
Há-de descer-te pelos pulmões até ao coração inflamado.
Aqui há correntes de ar impróprias às fragilidades humanas.
Restringimos a complacência a fraquezas de origem divina.




Neste palácio abandonado não há gaiolas fechadas.
Os pássaros fazem o ninho nas palmas das minhas mãos abertas
E as crias debicam-me as nozes dos dedos por onde escorreram os anéis.
Em tempos houve rubis. Mas as pedras são frias.
Se não tens cuidado congelam-te o olhar.
Troquei-os por duas ou três gotas de sangue nas veias.




Por este palácio abandonado passeia-se em fúria o vento norte.
Rouba a areia das praias para desenhar as dunas que me servem de cama
E pelas frinchas dos sonhos sopra acordes de orquestra que me embalam.
O silvo que te rodeia os ouvidos é a agonia do vento norte
há-de instalar-se no interior da tua memória e ensurdecer-te.
Aqui ouve-se uma música imprópria às fragilidades humanas.




Por isso, por favor, quando saíres fecha a porta.




Poema "Quando saíres fecha a porta" de "Cuca, a Pirata", em "Stars & Mythical Creatures"



______________________________________________

2 comentários:

Cuca, a Pirata disse...

Que maravilha de ilustração.
Até fiquei comovida.
Obrigada, Ideiafix.
:)

Ideiafix disse...

As fotografias são apenas isso: Imagens …
As emoções constam apenas nas palavras aqui pirateadas.
Relê-las é que certamente a comoveu, “Cuca, a Pirata”.
As imagens pouco mais apresentam que frios calhaus que só ganharam sentido com a legenda e o sentimento da sua poesia.