Morre David Bowie. Morre Prince. Morre Leonard Cohen, morre
George Michael. Mas Ágata canta Hallelujah e Maria Leal descobre entroncamentos
sem fim.
Em janeiro, Maria de Belém diz que se for eleita Presidente
levará Chefes de Estado a almoçar a lares de idosos. Marcelo ganha as eleições
e acaba a brindar sozinho à mesa com os Reis de Espanha. Bloco de Esquerda não
aplaude porque está demasiado ocupado a mudar cartão de cidadão para cartão da
cidadã.
Benfica mantém a sua cavalgada triunfal no futebol nacional,
reduzindo Jorge Jesus a “adrenalina negativa”. Tal como o Sporting, a
requalificação “verde” na Segunda Circular cai ao minuto oitchenta e oitcho.
Mas as restantes obras em Lisboa são de parar o trânsito.
Morre Ettore Scola. Morre Zaha Hadid. Morre Nuno Teotónio
Pereira. Morre Fidel. Morre Umberto Eco. Morre Michael Cimino. Morre Gene
Wilder, Carrie Fisher e sua mãe Debbie Reynolds. Morre Cruyff e João Havelange.
Jerónimo Sousa descreve Marisa Matias como “engraçadinha”,
Pedro Arroja compara o Bloco de Esquerda a “mulheres esganiçadas”, o movimento
Bela Recatada e do Lar criado no Brasil torna-se viral, e o PCP aproveita para
se juntar à direita no chumbo aos votos de condenação de Angola no caso Luaty
Beirão.
A Geringonça, conhecida como o “bebé com ADN de três pais”,
revela-se um sucesso, e o país descobre um Presidente da República que faz
presenças e distribui condecorações.
A paz social é alcançada apesar de Santos Silva comparar os
sindicatos a uma “feira de gado” e João Soares querer dar umas bofetadas a
colunistas do Público.
A TAP corta 4 voos para o Porto mas Rui Moreira fica com os
Mirós. Aeroporto de Lisboa passa a chamar-se Humberto Delgado. E subitamente,
passageiros argelinos começam a invadir a pista do aeroporto como se fosse a
Black Friday ou o Pokemon Go.
Morre Almeida Santos. Morre José Lello. Morre Francisco
Nicholson e Nicolau Breyner. Mas José Pedro Gomes sai do coma.
Taxistas param o país no protesto contra a Uber mas ao fim
da noite estão todos a ver o Prós e o Contras e a mamar jolas. Portugal não vai
ao Eurofestival da Canção mas a carta de condução ganha 12 pontos e Portugal
ganha o Euro 2016 num jogo em que Ronaldo se estreia como treinador.
Jovem derruba estátua de D. Sebastião no Rossio, turista
derruba estátua no museu de Arte Antiga, turista atira-se ao mar para apanhar
um barco na Madeira e Mário Soares cai em coma profundo.
Messi falha um penalti a abandona a selecção argentina.
Ronaldo falha imensos, não desiste, e acaba por ganhar a Champions, o Euro
2016, abrir hotéis e arremessar o microfone da CMTV para o lago. Se perdermos
que s’a foda.
Heróis populares? O dono do restaurante de kebab no Cais
Sodré, o casal que ofereceu mil litros de água na A1, a Telma Monteiro que
trouxe bronze do Rio, o Dylan que não quis saber do Nobel, e o Pedro Dias que
durante um mês só comeu nozes, castanhas e kiwis.
Vilões do ano? O “arquitecto” José António Saraiva, a
carteirista Quina, os filhos do embaixador iraquiano em Portugal e a taróloga
da SIC que aconselhou “paciência” a uma vítima de violência doméstica. Já dizia
o Trump: Protect your pussy!
Atentados Je Suis em Nice, Bruxelas, Istambul, Berlim, para
não falar do embaixador russo morto em Ancara, do ataque a uma discoteca gay na
Florida e da tragédia do Chapecoense na Colômbia. Os humanistas de sofá pedem
para olharmos mais para Alepo, mas estamos todos distraídos com os tweets de
Trump.
Trends do ano? O Mannequin Challenge, o Panama Papers e as
opiniões sobre o Burquini.
Humor debaixo de fogo. RAP afirma que já não faz sentido
anedotas com “mariconços e marrecos”, Pedro Fernandes e Franco Bastos pedem
desculpa a Pinto da Costa, Nuno Markl diz que nunca quis ofender os
transmontanos, Henrique Raposo é persona non grata no Alentejo e José António
Saraiva é odiado por todos. Não admira que Rui Sinel de Cordes tenha decidido
emigrar para Inglaterra.
A Madeira ardeu, o festival Andanças queimou, os treinos dos
Comandos mataram, a discussão entre apoio ao ensino privado e público ferveu.
Assunção Cristas, criadora do soro da verdade, do radicalismo do amor e do
vestido branco com ou sem kiwis, disse que devíamos “sacrificar escolas
públicas”.
Saídas limpas (ou talvez não) de Cavaco, de Hillary Clinton,
da nota de 500 euros, do Brexit, do Galaxy Note 7, da Dilma, do Elefante
Branco, da Cornucópia e da Académica, que desceu de divisão.
Portugueses correm para a inauguração do MAAT, do túnel do
Marão, do Galo de Barcelos gigante da Joana Vasconcelos, do perdão fiscal e de
qualquer celebridade RIP que tenha morrido nos últimos dez minutos.
Temas fracturantes? A Embaixada em Paris que recusa receber
Tony Carreira, o McDonald’s que inaugura no Chiado, os voos oferecidos pela
GALP, o fim do casal Brangelina, e os despenteados da Websummit.
No início do ano Portugal cai seis lugares no ranking da
felicidade mas depois Marcelo é eleito, a selecção vence o Euro 2016, a nossa
gastronomia ganha nove estrelas Michelin e Guterres é eleito Secretário Geral
da ONU. O ano acaba com Portugal na Champions da Felicidade, uma espécie de
pós-verdade dos pobres.
2016 morre no final do ano vítima de doença prolongada ou
talvez um entroncamento sem fim. Tchau querido!
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