sábado, 19 de novembro de 2016

Acusações





Ergueu-se enorme, vermelha de raiva, uma lua acusadora.
Encheu-se das promessas que incumprimos; inchou na solidão dos encontros a que faltámos.
Sobre esta minha praia e sobre aquela tua baía, ergueu-se, acusadora, a lua que traímos. 
Impõe-se, agora, alta e plena, ao negro profundo que é o espelho vazio do nosso desamor. 
Pendurada num resto de céu, denuncia ao mundo o nosso crime. 
E escurece-nos. 
A lua sempre enche de negro aqueles a quem, por mil e uma noites, iluminou. 


Trazido do fantástico galeão da Cuca, a pirata, que é o melhor sítio para se ver a lua (neste navio)

O Homem do Violino


























Quando há dias fui ver e ouvir jazz com um grupo francês que dá pelo nome de Les Kostards, deparei-me com este violinista que, para além de surpreender pela beleza do som que arrancava do seu violino, inundou a sala com uma simpatia e humor que guardo no canto da memória reservado às coisas boas. 
O artista é LAURENT ZELLER.
Não é que os seus companheiros não merecessem uma reportagem fotográfica, mas a minha câmara engraçou com o Laurent e foi ele que ficou neste registo do homem do violino. A sala escura e uma "Kodak" de bolso não permitiram registos de grande qualidade. Mas o que pretendi registar e deixar-vos aqui não é arte fotográfica. São apenas registos de momentos de um artista que, como podem ver, não podia deixar de ser fotografado


Já antes por aqui tinha deixado o Homem da Concertina
Hoje deixo o Homem do Violino.
Se quiserem deliciar-se com um pouco da música de "Les Kostards", podem ouvi-los na sua PÁGINA OFICIAL ou vê-los, por exemplo AQUI.


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domingo, 6 de novembro de 2016

Esta gente


Esta gente cujo rosto
Às vezes luminoso
E outras vezes tosco 


Ora me lembra escravos
Ora me lembra reis


Faz renascer meu gosto
De luta e de combate
Contra o abutre e a cobra
O porco e o milhafre 


Pois a gente que tem
O rosto desenhado
Por paciência e fome
É a gente em quem
Um país ocupado
Escreve o seu nome 


E em frente desta gente
Ignorada e pisada
Como a pedra do chão
E mais do que a pedra
Humilhada e calcada 


Meu canto se renova
E recomeço a busca
De um país liberto
De uma vida limpa
E de um tempo justo 



 Poema de Sophia de Mello Breyner Andresen, in "Geografia"



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